segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O CAMINHO DA VERDADEIRA GRANDEZA


“Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva”, disse o nosso Senhor (Mateus 20.20-28). Destas palavras podemos concluir corretamente (e o contexto dá forte apoio à conclusão) que não há nada de errado no desejo de ser grande, desde que (1) busquemos o tipo certo de grandeza; (2) deixemos que Deus decida o que é grandeza; (3) estejamos dispostos a pagar o preço total que a grandeza exige, e (4) nos contentemos em esperar pelo juízo de Deus para resolver toda a questão de quem é grande afinal.
Contudo, é vitalmente importante saber o que Cristo quis dizer quando empregou a palavra grande com relação aos homens, e o que Ele tinha em mente não se pode achar no léxico ou dicionário. Só é bem compreendido quando visto em seu amplo cenário teológico. Ninguém cujo coração teve uma visão de Deus, por mais curta e imperfeita que essa visão posa ter sido, jamais se permitirá pensar de si ou de outrem como sendo grande. Ver a Deus, quando Ele se manifesta em temível majestade aos espantados olhos da alma, fará o adorador cair de joelhos com temor e júbilo, e o encherá de tão dominante senso de grandeza divina, que só terá de clamar espontaneamente: “Só Deus é grande!”
Tendo-se isso tudo como certo, contudo Deus mesmo aplica aos homens a palavra grande, como quando o anjo diz a Zacarias que o filho que há de nascer “será grande diante do Senhor”, ou como quando Cristo fala de alguns que serão grandes no reino dos céus.
Obviamente há duas espécies de grandezas reconhecidas nas Escrituras – uma grandeza incriada e absoluta, que pertence somente a Deus, e uma grandeza finita e relativa, conseguida ou recebida por certos amigos de Deus e filhos da fé que, pela obediência e renúncia própria, procuraram tornar-se tão semelhantes a Deus quanto possível. É desta última espécie de grandeza que falamos.
Procurar grandeza não é errado em si. Os homens foram feitos à imagem de Deus e receberam poder para sujeitar e dominar a terra. O próprio desejo que o homem tem de elevar-se acima do seu presente estado e de fazer com que todas as coisas se lhe submetam, pode muito bem ser o cego impulso da sua natureza decaída para cumprir o propósito pelo qual foi criado. O pecado perverteu este instinto natural, como fez com todos os outros. Os homens abandonaram a sua primeira posição e, em sua ignorância moral, invariavelmente procuram grandeza onde esta não se encontra, e buscam alcançá-la por meios sempre inúteis e muitas vezes manifestamente iníquos.
Pela vida que viveu e pelas palavras que falou, o nosso Senhor desfez a confusão que existia quanto à grandeza humana. Isto é, Ele a desfez para todos os que se dispõem a ouvir as Suas palavras e a aceitar a Sua vida como modelo para a deles.
A essência do ensino de Cristo é que a verdadeira grandeza está no caráter, não na capacidade ou posição. Em sua cegueira, os homens sempre pensaram que os talentos superiores tornam grande um homem, e é isto que a vasta maioria acredita hoje. Ser dotado de habilidades incomuns na esfera da arte ou da literatura ou da música ou da política, por exemplo, é em si mesmo tido como prova de grandeza, e quem é assim dotado é aplaudido como grande homem. Cristo ensinou, e por Sua vida demonstrou, que a grandeza está em maiores profundidades.
“Governadores dos povos”, foi como Ele denominou os que obtiveram poder político por seus talentos superiores ou que herdaram sua posição de domínio sobre outros homens. É evidente que Cristo não estava impressionado com aquela espécie de grandeza, pois traçou incisiva linha entre ela e a verdadeira grandeza. “Não é assim entre vós”, disse aos Seus seguidores. Introduzira-se novo e radical conceito de grandeza.
Embora uns poucos filósofos e religiosos dos tempos pré-cristãos tenham visto a falácia da idéia humana de grandeza e a tenham desmascarado, foi Cristo quem situou a verdadeira grandeza e mostrou como pode ser obtida. “Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo”. É simples e fácil – e que difícil!
A facilidade e a simplicidade estão aí, para qualquer pessoa ver. Só temos de seguir a Cristo no serviço em favor da raça humana, serviço altruísta que só pede para servir, e a grandeza será nossa. Isso é tudo, mas é muitíssimo, pois vai contra tudo que Adão é em nós. Adão ainda sente o instinto por exercer domínio; ouve no íntimo do seu ser a ordem: “Enchei a terra e sujeitai-a”, e não aceita docilmente a ordem para servir. E aí está a confusão, a contradição, que o pecado trouxe, pois, afinal de contas, o pecado é o problema, e o pecado tem de ir embora.
O pecado tem de partir e Adão tem de dar caminho a Cristo; é o que, com efeito, diz nosso Senhor. Pelo pecado, os homens perderam o domínio e perderam o direito a ele, até que venham a recuperá-lo mediante o serviço humilde. Embora redimido da morte e do inferno pela obra vicária de Cristo na cruz, ainda cada homem deve obter separadamente o direito de ter domínio. Cada qual deve cumprir uma longa aprendizagem como servo, antes de estar pronto para governar.
Depois de Cristo ter servido (e Seu serviço incluiu a morte) “Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome”. Como homem Ele serviu e conquistou o direito de ter domínio.
Cristo achou fácil servir porque não tinha nenhum pecado. Nada nele se rebelava contra as mais modestas ministrações, requeridas por nossa natureza decaída. Ele sabia onde estava a verdadeira grandeza e nós não o sabemos. Tentamos galgar alta posição, quando Deus ordenou que fôssemos para baixo. “Quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo”.

A.W. Tozer

Nenhum comentário:

Postar um comentário